Uso de celebridades para construção de valor para as marcas
Fonte: Mundo do Marketing 20 Jan 15
Há tempos que as empresas entenderam os benefícios de usar celebridades na comunicação de suas marcas. Nota-se, porém, que este tipo de estratégia vem crescendo a cada dia, o que, muitas vezes, torna os resultados menos expressivos do que eram no passado. Isso se deve a uma diluição natural da credibilidade, algo relativamente comum em celebridades excessivamente utilizadas.
Contratar um “famoso” para falar bem de uma marca ou de um produto é o sonho de muitas empresas, até porque, muitas vezes, além da expectativa dos resultados, há uma relação de admiração entre gestores e a celebridade contratada. Mas isso é assunto para um outro artigo!
Ao adotar este tipo de tática, marcas buscam uma associação, um endosso, que é, na maioria das vezes, trabalhado em terceira pessoa no filme publicitário. Ou seja, as marcas transferem para a celebridade o discurso que seria feito por elas mesmas. Com isso, aproveitam-se dos significados e da personalidade do “famoso” para gerar uma promessa, e convencer o consumidor a se relacionar com a marca. Resta saber se este consumidor, cada dia mais bem informado, acreditará no depoimento.
Uma coisa é certa, não há celebridade com credibilidade suficiente capaz de resolver a falta de objetivos na comunicação das marcas. Antes de decidir contratar fulano ou ciclano, há de se ter informações de pesquisa e estratégias claras. Abaixo listo algumas questões relevantes neste processo:
Questão 01: Para quem minha marca deve comunicar?
Questão 02: O que devo comunicar com minha marca?
Questão 03: O que minha marca ganhará em termos de significados/atributos, além da visibilidade?
Questão 04: Qual comportamento devo esperar como resposta do consumidor?
Aparentemente, perguntas simples, mas que algumas vezes acabam ficando em segundo plano, superadas pela euforia da contratação do “famoso”.
Em um caso recente, o grupo JBS iniciou um trabalho de descomoditização da carne bovina brasileira com o fortalecimento da marca Friboi. Ao que tudo indica, naquele momento, as quatro questões acima estavam bem claras para seus gestores. Uma marca que deseja construir confiabilidade deve buscar alguém 100% confiável. E quem seria a personalidade mais adequada para ajudar a construir este atributo e agregar valor à marca? Bingo!!! Tony Ramos.
Tudo parecia bem, até que surgiu a ideia: “Roberto Carlos… Vamos contratar o Roberto Carlos para a próxima campanha da Friboi.” A resposta do consumidor (Questão 04) veio rapidamente. Críticas sobre a veracidade da campanha, polêmicas em torno do altíssimo cachê e questionamentos sobre o cantor ser (ou não) vegetariano. O erro cometido, custou um bom dinheiro e, provavelmente, alguns arranhões na imagem de “Confiança”. Algo que a marca segue empenhada em construir.
Há muitos casos de sucesso envolvendo uso de celebridades. A Havaianas, por exemplo, é uma marca que não poupa esforços e segue consistente em sua estratégia de usar celebridades em campanhas para construir uma personalidade proprietária, muito ligada ao estilo de vida do brasileiro. É esta brasilidade, somada à irreverência contida em seus filmes, anúncios, produtos e PDVs, que encanta os consumidores e que os leva a pagar preços elevados por suas sandálias de borracha. No fim das contas, o que o público compra não são somente os aspectos funcionais do produto, mas também os significados extrínsecos da marca. A estratégia de variar constantemente suas celebridades é bastante eficaz para a Havaianas, pois minimiza riscos em casos de “erros de conduta dos famosos”, e ainda ajuda a construir um sentimento de aspiração pela marca.
Estudar cases reais é uma boa forma de aprender, mas há alguma regra de ouro para escolher a celebridade mais adequada para minha marca?
Foco no posicionamento:
A marca deve estar ancorada em um posicionamento claro, com seu público-alvo e sua categoria de atuação bem definidos. Com estes dois fatores, já é possível tirar algumas conclusões ou, pelo menos, saber quais são aqueles perfis de celebridades que definitivamente não interessam. Exemplo: Para uma marca da categoria de alimentos infantis, que foca no público de mães, não faz muito sentido utilizar atletas de futebol. Apesar de serem reconhecidos pelo público e poderem gerar boa visibilidade, não são relevantes, tampouco agregam em atributos de “experiência” e “segurança”, algo muito valorizado por este tipo de consumidora.
Fortalecimento de brand equity e clareza nos significados pretendidos:
Quando um gestor decide investir em uma celebridade, ele também busca aumentar a exposição de sua marca, mas este não pode ser o único critério de decisão. O velho ditado “Falem mal, mas falem de mim”, definitivamente, não ajuda quando o assunto está relacionado com construção de valor para marcas. A marca deve ser lembrada para ser considerada uma opção de compra, mas deve ser lembrada com significados positivos e, acima de tudo, relevantes para seu público-alvo.
Uma marca com um Brand Equity forte leva uma grande vantagem em relação aos seus concorrentes, pois consegue estabelecer vínculos mais fortes com o público, gerando preferência de compra e lealdade. Quando uma marca conhece e planeja seu Brand Equity, ela tem clareza de quais significados deve construir. Com isso, a escolha da celebridade torna-se mais simples, e o uso desta estratégia pode ajudar a acelerar o processo. Na medida em que a marca se aproxima de alguém que possui credibilidade, acaba transferindo parte do valor para si própria.
Algumas dicas
UTILIZE ESPECIALISTAS NO SEGMENTO: Sob aspectos racionais, uma boa estratégia é apostar as fichas em celebridades atuantes no segmento da marca. O discurso se torna mais crível pois o público tende a confiar mais em especialistas. Exemplos: Marcas do setor automotivo que utilizam pilotos. Marcas do setor de cosméticos que utilizam modelos ou maquiadores famosos.
COMBINE RAZÃO COM EMOÇÃO: A combinação dos valores racionais com os emocionais, como imagens, sentimentos e personalidade é que trazem a maior riqueza e valor para a marca. Por isso, ao decidir pelo uso de fulano ou ciclano, é importante avaliar se sua personalidade combina ou não com aquela que deve ser construída para a marca.
SUPEREXPOSIÇÃO NÃO: Evite celebridades superexpostas! Apesar de tentador, quanto maior o número de marcas oferecidas, maior a chance da sua marca não conseguir a associação que deseja. Optar por nomes menos óbvios pode garantir um ar de exclusividade.
PESQUISA SEMPRE: Estudar o comportamento do público, planejar e medir a construção do Brand Equity é fundamental para a construção de valor para a marca. Com a escolha da celebridade, não é diferente. Testar previamente a aceitação do público pode ser fator chave de sucesso, além de otimizar recursos e evitar rejeições e transtornos. Sucesso em 2015!